Restringir o consumo de sal é uma das medidas essenciais para prevenir a hipertensão e a pressão arterial, doença silenciosa que aumenta o risco de infarto e derrame
Uma bomba de efeito retardado. Assim é a hipertensão arterial, distúrbio em que se eleva a força exercida pelo sangue sobre as paredes das artérias. Com isso, o coração, o cérebro, os olhos e os rins sofrem sobrecarga.
E o desfecho pode ser trágico. A principal causa de mortalidade no País são as doenças cardiovasculares, o infarto e o acidente vascular cerebral (o popular derrame). Cerca de 300 mil pessoas morrem a cada ano por causa desses males e mais da metade deles decorre da hipertensão arterial.
É um problema grave de saúde pública. Mas como a doença não produz sintomas, a maioria dos hipertensos não faz ideia do perigo. E nem sequer imagina que essas consequências poderiam ser evitadas se o problema fosse conhecido e tratado o quanto antes.
Existem recursos eficazes para controlar a pressão, mas as pessoas nem sempre se beneficiam por falta de informação. Vamos reunir o que há de melhor para prevenção e tratamento da pressão alta, a partir das Diretrizes Brasileiras de Hipertensão arterial, divulgadas em julho de 2010.
Elas foram elaboradas por mais de cem especialistas que revisaram as últimas pesquisas sobre o assunto para atualizar a abordagem médica.
Além de maior consumo de frutas e hortaliças, prática de atividade física e controle do peso, a população precisa medir a pressão arterial e a fazer sexo com regularidade.
Assim, o mais importante é mudar de atitude: assumir uma postura ativa em defesa da própria saúde.
30% da população adulta brasileira e mais de 50% das pessoas da terceira idade sofrem da pressão alta
Por que a pressão arterial sobe?
Problemas vasculares excesso de líquidos em circulação podem fazer com que a pressão suba a pata mais perigosos é importante conhecer esta ameaça.
A coração merece o título de músculo mais nobre do corpo humano. Afinal, é ele que desempenha a ilustre missão de irrigar o organismo, levando o sangue rico em oxigênio e nutrientes a cada célula.
Para isso, o miocárdio executa ações coordenadas. A cada batimento, suas câmaras se contraem a fim de bombear o sangue. Esse processo, chamado de sístole, requer força máxima.
Em seguida, as câmaras se dilatam e se enchem de sangue. O coração relaxa, o que requer força mínima. É a chamada diástole.
O sangue bombeado chega aos órgãos por meio de uma rede de artérias, semelhante às avenidas e ruas de uma cidade. A força que este líquido exerce sobre as paredes dos vasos é a pressão arterial. Esta força deve ter o tamanho exato para abarcar todas as células.
Se estiver baixa, talvez o sangue não alcance os locais mais distantes.
Mas se for alta demais, de forma persistente, as paredes das artérias sofrem agressões e podem vir a se romper, como no acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico, causa de sangramento no cérebro.
Um dos principais fatores que empurram a pressão arterial para o alto compete às artérias, que vão enrijecendo, perdem a flexibilidade e deixam de se expandir para a passagem do sangue. Ou, pior, na hora H, até se contraem.
Deste modo, elas oferecem resistência ao trânsito desse líquido. Então, o sangue bombeado é forçado a passar por um espaço menor que o normal. Resultado: a pressão arterial sobe.
Outro fator relevante é o aumento no volume de sangue, talvez por esforço extra do coração, que bate mais vezes ou mais forte.
Ou a culpa é dos rins, que não regulam de forma adequada a quantidade de líquidos em circulação. O efeito é desastroso: para impulsionar todo esse volume de sangue, a pressão vai às alturas.
23% dos hipertenso os controlam bem a doença 36% não fazem controle algum e 41% abandonam o tratamento após melhora inicial
Manejo ineficaz multiplica o risco
Aumentos esporádicos da pressão arterial podem ser tolerados. Mas quando os valores altos viram uma constante, a saúde corre perigo.
O coração, o cérebro, os rins e os vasos sanguíneos podem sofrer graves danos. Além disso, a hipertensão arterial altera o metabolismo, criando condições para o aparecimento de distúrbios cardiovasculares.
Embora seja um quadro comum (atinge 10 % da população ), o número de portadores que conhece o problema e consegue administrá-la bem está muito abaixo do desejável.
Há de 30 a 40 milhões de hipertensos no País,. Apenas 20% estão com a pressão sob controle. Uma das explicações para esse hiato é a demora para fazer o diagnóstico, já que a pressão sobe e se sustenta elevada sem causar sintomas no início.
Os sinais atribuídos a ela – dor de cabeça, tontura, cansaço e sangramento nasal – muitas vezes só aparecem em fases tardias, quando alguns órgãos já contabilizam prejuízos.
Inimiga silenciosa e desleal, no início a pessoa material sobe sem provocar sintomas dor de cabeça tontura e sangramento nasal em geral tem outras causas
O que acontece com o coração de uma pessoa que tem hipertensão arterial?
- O sangue bombeado pelo coração exerce uma força sobre as paredes das artérias para circular pelo corpo.
- Quando esta força aumenta e as artérias oferecem resistência à passagem do sangue, ocorre a hipertensão arterial. As paredes do vaso sofrem danos e ficam mais sujeitas ao depósito de gordura.
- Aos poucos, a artéria vai sendo obstruída, o que pode acarretar infarto.
- A pressão alta também engrossa as paredes dos ventrículos e dilata o coração.
Grávidas com hipertensão arterial devem sempre estar em alerta máximo
A elevação da pressão arterial durante a gestação expõe a mãe e o bebê a muitos perigos. A placenta pode ser lesada, prejudicando a chegada de oxigênio e nutrientes ao bebê. O resultado é baixo peso fetal e, em alguns casos, o óbito.
Outra ameaça é o descolamento de placenta e consequente hemorragia, que ameaça a vida de mãe e filho. Além disso, se a pressão subir no trimestre final (pré – eclâmpsia), a gestante fica sujeita a convulsões. Um sinal de alarme é dor na parte de cima do abdome no último trimestre da gravidez.
Quanto antes o problema for diagnosticado e controlado, melhor. Daí a importância de aferir a pressão da futura mamãe em todas as consultas do pré – natal.
Controle da hipertensão arterial precoce evita complicações
Não é necessário se submeter a exames sofisticados para conferir se a força que o sangue exerce sobre as paredes das artérias está dentro da normalidade. Basta medir a pressão arterial pelo menos uma vez por ano.
Isso pode ser feito em serviço médico, farmácia ou até em casa, por meio de aparelhos eletrônicos. O principal requisito é conhecer os índices adequados de pressão arterial.
Só que a maioria da população ignora esses números, revelou uma pesquisa feita com 2.096 pessoas pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo ( Socesp ): apenas 6% dos entrevistados sabiam a taxa ideal da pressão arterial.
Por isso, organizações como as Sociedades Brasileiras de Cardiologia, de Hipertensão arteriale de Nefrologia idealizaram campanhas, para estimular a prevenção e o controle efetivo da hipertensão arterial em nosso meio e também disseminar informações sobre os valores desejáveis.
Quando a pressão está em 12 por 8 ou abaixo, tudo funciona bem.
5 regras de como medir a pressão arterial corretamente
Checar regularmente a pressão é um hábito saudável que permite detectar logo alterações e em TV antes que o órgão importante sofrer as consequências
Evite erros ao verificar a pressão arterial, tomando esses cuidados:
- Fique calmo e respire tranquilamente.
- Se tiver feito atividade física, por exemplo, caminhando um quarteirão ou subindo alguns lances de escada, descanse pelo menos 15 minutos antes de medir.
- Não fume ou beba café nas duas horas anteriores.
- Vá ao banheiro antes. O estresse da bexiga cheia tende a aumentar a pressão.
- Sente-se em posição confortável: as pernas descruzadas, os pés apoiados no chão e as costas encostadas na cadeira.
Em apenas 29% das consultas médicas no Brasil a pressão arterial é aferida sendo que esta deveria ser uma conduta de rotina
A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg). Os aparelhos informam a máxima, quando o coração se contrai (pressão sistólica) e a mínima, quando o coração relaxa (pressão diastólica). Por exemplo: 120/80 mmHg.
Lê-se : cento e vinte por oitenta. Para simplificar, eliminam-se os zeros e se diz apenas 12 por 8.
Quais os perigos dos índices de pressão alta continuarem?
Considera-se hipertensão arterial quando a pressão está igual ou acima de 14 por 9. Mas não basta uma medida isolada. A elevação pode estar associada a um fato transitório, como o estresse pela perda do emprego. A medida tem de ser confiável e a alteração persistente.
Assim, devem ser feitas pelo menos três medições para chegar ao diagnóstico. Valores entre 12 por 8 e 14 por 9 são chamados de pré-hipertensão arterialou pressão limítrofe (veja quadro abaixo), por tanto, já requerem mudanças no estilo de vida, sobretudo quando a pessoa apresenta outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como diabetes.
Para o diagnóstico, é comum solicitar o Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial (Mapa), que mostra como a pressão se comporta ao longo do dia. A pessoa fica 24 hora com um aparelho que faz medições a cada 15 minutos de dia e 30 à noite, enquanto realiza suas atividades habituais.
Deste modo é possível afastar a hipótese de hipertensão arterial de consultório (ou de avental branco): a pressão é normal, sobe apenas na frente do médico. E também flagrar a hipertensão noturna, elevações da pressão durante o sono.
O esperado é que ela caia 10% enquanto dormimos, já que o coração bate mais devagar. Mas em algumas pessoas ela sobe, aumentando o risco de AVC.
Use sempre um aparelho confiável para medir a pressão arterial, ele será seu aliado
Também vale a pena fazer um registro das variações da pressão, conforme orientação médica: podem ser três medidas pela manhã antes do desjejum e três à noite, antes do jantar, durante cinco dias.
O importante é que a medição seja efetuada por pessoa capacitada (se usar os aparelhos convencionais, aneróide ou de coluna de mercúrio) ou no caso de um leigo, que ele recorra a um aparelho de fácil manejo e validado.
Do contrário, não dá para ter certeza de que os resultados são confiáveis. Os nacionais são certificados pelo Inmetro. Já os importados devem ser testados por entidades especializadas, a BHS (British Hypertension Society) e a AAMI (Association for the Ad vancement of Medical Instrumentation), e receber um selo na embalagem.
Esses aparelhos podem ser colocados no braço, no punho e nos dedos. De modo geral, os do braço trazem resultados mais precisos, desde que se verifique o tamanho do manguito, a bolsa de borracha utilizada para a medida.
Ela deve ser adequada à circunferência do braço do usuário. O padrão se destina a quem tem entre 26cm e 35cm de diâmetro. Se o braço for mais largo, serão obtidos números acima do correto. Sendo mais fino, os valores estarão abaixo do real.
Nos dois casos será preciso substituir o manguito por outros tamanhos. Mas se esses cuidados forem observados, a auto medição pode ser um aliado valioso no
Quais são os riscos quando a pressão sobe?
- Vasos sanguíneos – A hipertensão arterial comprime as paredes das artérias, o que favorece o acúmulo de gordura e o entupimento.
- Coração – Pode sofrer obstrução das coronárias e infarto do miocárdio. Além disso, distende e fica sujeito à insuficiência cardíaca.
- Cérebro – Torna – se mais vulnerável ao acidente vascular cerebral, o derrame, e certas demências.
- Olhos – Ocorrem problemas de retina e agressões ao nervo óptico passíveis de levar à cegueira.
- Rins – A capacidade de filtrar o sangue se reduz e pode culminar em insuficiência renal.
Órgãos vitais sofrem danos a pressão alta é responsável por 40% dos infartos 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e 20% dos casos de insuficiência renal grave
Saiba o que é a hipertensão arterial e previna-se
Obesidade é um dos culpados pela pressão alta, além de excesso de sal, estresse e sedentarismo. Hábitos saudáveis tem efeito contrário. Quanto antes investir neles, melhor!
De cada 10 hipertensos, 3 podem ter herdado a predisposição genética para a pressão alta. Se um dos pais apresentar o problema, as chances de fazer parte desse time são de 3 %; se ambos forem hipertensos, elas chegam a 50%. “Mas o destino não está traçado”.
Dá para contornar a bagagem genética adotando um estilo de vida saudável, de preferência desde a infância.
Calcula- se que os outros 7 entre os 10 hipertensos desenvolvem o distúrbio em razão de múltiplos fatores ambientais: o consumo abusivo de sal é preponderante, assim como a obesidade, o sedentarismo e o estresse.
O sal é a principal fonte de sódio, o mineral que ajuda a regular a quantidade de líquido no organismo. Para isso, basta ingerir uma dose mínima diária: 1, 2 grama de sal (o equivalente a 500mg de sódio).
O brasileiro consome dez vezes mais: 12 gramas. A maior parte é originária de produtos industrializados, já que o sal é um conservante eficiente e de baixo custo.
Ele desidrata fungos e bactérias que estragam os alimentos. Mas em excesso, o sódio provoca aumento no volume de sangue que circula pelas artérias, o que pode servir de estopim para a hipertensão.
As novas diretrizes para controle da doença no Brasil estabelecem um limite mais rigoroso para o consumo de sal: 5 gramas por dia, o conteúdo de uma colher rasa (chá).
A meta anterior era de 6 gramas. A justificativa é de que a redução de apenas 1 grama no consumo já seria capaz de evitar 10% das mortes por distúrbios cardiovasculares, salvando cerca de 1 milhão de vidas no mundo anualmente, segundo cálculos apresentados em estudo publicado na revista científica americana The New England Journal of Medicine.
Estima-se a redução de 15% das mortes por AVC e 10% dos óbitos por infarto seu consumo de sal cair para 5g diário.
Diversas pesquisas comprovaram a relação entre abuso de sal e aumento da pressão arterial e estimularam países, como os do Reino Unido, a investirem em campanhas para reduzir o consumo.
Cientistas constataram que a incidência de hipertensão é nula entre os índios ianomâmis do Xingu.
Por viverem isolados e longe do mar, eles não têm sal disponível e não adquiriram o costume de usá-lo como tempero.
O curioso é que o problema não foi localizado sequer entre os índios mais velhos. A idade é um fator de risco para a hipertensão arterial, porque com o avanço dos anos as artérias podem perder a flexibilidade e se tornar mais resistentes à passagem do sangue. Esse endurecimento progressivo é uma das explicações para a mais prevalência de hipertensão arterial na terceira idade.
Mas o fato de índios longevos escaparem dessa ameaça acentua o peso do estilo de vida na origem do problema. Esse achado colaborou para derrubar o conceito de que a rigidez dos vasos é natural no envelhecimento e de que não vale a pena tratar hipertensão a essa altura da vida.
Os novos trabalhos concluíram que ao normalizar a pressão os idosos vivem mais.
Fique em dia com a balança o aumento do peso, mesmo em pessoas fisicamente ativas, acarreta maior risco de hipertensão arterial. Mas um bom motivo para manter a forma
Quilos a mais, pressão em alta
A obesidade também foi zero entre os ianomâmis, embora afete cerca de 40 % da população brasileira. E quanto maior o peso, maior a probabilidade de a pressão subir. Os quilos a mais sobrecarregam o corpo, exigindo esforço extra do coração, dos rins e das artérias.
Para compensar, o organismo lança mão de processos que afetam os mecanismos reguladores da pressão. Por exemplo, passa a reter mais água e sal. Como se não bastasse, tais modificações desembocam na síndrome metabólica.
A hipertensão arterial é uma das manifestações desta síndrome, ao lado de alterações no colesterol, maior risco de diabetes e depósito de gordura no abdome (a barriguinha de chope), reconhecida como a mais nociva ao coração por ser justamente a que entope as artérias.
Estresse e álcool, notórios vilões que provocam hipertensão
O estresse também pode desencadear o quadro da hipertensão. A adrenalina liberada nessas ocasiões acelera o coração. O fluxo de sangue para as artérias cresce e a pressão arterial se eleva.
Passado o “susto”, é de se esperar que tudo volte ao equilíbrio. Mas se o estresse for persistente, a repercussão é desastrosa. A impossibilidade de resolver a situação produz aumento da pressão e maior risco de problemas cardiovasculares.
Resta acrescentar a essa lista o sedentarismo, já que o exercício físico regular exerce efeito benéfico sobre a pressão arterial; o abuso de álcool, pois o consumo acentuado tem ação direta na pressão: quanto mais beber, piores os índices; e o gênero.
De modo geral, até os 50 anos os homens sofrem mais de hipertensão. Suspeita-se que o estrogênio exerça algum papel na regulação da pressão arterial. Após a menopausa, os índices começam a subir nas mulheres, criando um cenário alarmante.
No Brasil, a hipertensão feminina é mais grave e causa maior mortalidade cardiovascular. Este desfecho seria evitado com a detecção precoce e a adoção de medidas preventivas.
As crianças também podem ter hipertensão?
Antes fato raro, a hipertensão em crianças e adolescentes era decorrente de doenças, em geral, nos rins.
Mas com o avanço da obesidade e o cotidiano cada vez mais sedentário, cresce o número de baixinhos que manifestam a pressão alta assim como os adultos, sem causa definida.
Como nem sempre desenvolvem sintomas, recomenda se hoje medir a pressão arterial nas consultas pediátricas de rotina a partir dos 3 anos de idade.
Há casos em que apenas a perda de peso e a redução de sal da comida já conseguem normalizar os índices de pressão alta.
É preciso ficar atento sobretudo aos adolescentes com excesso de peso. Nessa faixa eles perdem o hábito de ir regularmente ao médico. Com isso, o diagnóstico de hipertensão pode demorar enquanto seu organismo sofre as consequências de ter a pressão fora de controle .