Estudos clínicos recentes mostram que 75% a 85% da população mundial será afetada por dores nas costas, em algum momento da sua vida. O que demonstra que estamos perante um problema de saúde pública, devido ao seu elevado impacto socioeconómico.

Abstenção laboral, custos em medicamentos e exames de imagem, abordagem terapêutica mostram a relevância deste tema. Neste artigo, tentaremos desmitificar os sintomas mais frequentes no que diz respeito à patologia da coluna vertebral lombar e cervical.

Durante o envelhecimento, ocorrem dois processos evolutivos e independentes na nossa coluna vertebral: a redução da densidade mineral óssea e as alterações degenerativas ao nível dos discos intervertebrais, ligamentos e articulações que se tornam mais rígidas.

Estas alterações originam um quadro de instabilidade, deformidade e diminuição do diâmetro dos buracos, por onde passam e saem os nervos da coluna.

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A lombalgia é um sintoma muito prevalecente na população mundial, sendo a segunda causa mais frequente na procura de ajuda médica, logo a seguir à constipação.

Corresponde a 15% dos motivos de incapacidade temporária para se trabalhar (a denominada baixa médica). No entanto, a causa nem sempre é fácil de identificar, pois a maior parte das vezes é multifatorial, decorrente das alterações degenerativas que ocorrem na nossa coluna vertebral.

Portanto, a lombalgia é uma dor localizada, cuja abordagem inicial passa por um tratamento conservador com medicação anti-inflamatória/analgésica e por reabilitação musculoesquelética.

O repouso excessivo não é benéfico, e o doente deve retomar a sua atividade da vida diária, modificando os hábitos que poderão agravar os sintomas. O exercício físico é fundamental, não só no tratamento como na prevenção da patologia da coluna lombar.

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Esta forma de tratamento resolve a maior parte das situações agudas. Claro que sintomas que se prolongam além dos três meses podem necessitar de uma reavaliação e de abordagens mais interventivas, como técnicas realizadas com métodos percutâneos para tratamento da dor lombar crónica, como são as neurólises ou as rizotomias por radiofrequência, cuja eficácia está demonstrada em casos clínicos bem selecionados.

Lombalgia é sinônimo de hérnia de disco na lombar?

Não. A hérnia discal consiste na extrusão de parte do núcleo do disco intervertebral para dentro do canal vertebral.

Apesar de a maior parte dos doentes com esta patologia ter queixas lombares, a hérnia discal pressupõe a compressão de um nervo, originando uma dor denominada radiculopatia.

Esta dor irradia ao longo do trajeto percorrido por esse nervo (neste caso, o membro inferior), podendo igualmente originar alterações sensitivas ou mesmo a diminuição da força muscular.

Ou seja: dá origem à chamada dor ciática. Esta tem características diferentes, conforme o nervo que está comprimido ao nível da coluna lombar, podendo, por exemplo, afetar mais o território posterior da perna e a planta do pé, ou a parte mais anterior e o peito do pé.

Essas características são relevantes para se identificar o nível da coluna lombar onde está a hérnia.

Toda hérnia de disco na lombar precisa de tratamento?

Toda hérnia de disco na lombar precisa de tratamento?

Não. Se não existirem sinais de alarme associados à ciatalgia, como são os défices de força muscular, ou situações de queixas álgicas intoleráveis, apesar de medicação múltipla, deve ser realizada inicialmente uma abordagem conservadora durante algumas semanas.

Se esta não resultar, deve ser considerada a cirurgia que consiste na remoção do fragmento que está a comprimir a raiz do nervo.

Há uns anos, esta intervenção suscitava fortes receios por parte do doente, mas, hoje em dia, as técnicas cirúrgicas para este tipo de patologia são cada vez menos invasivas e, assim, os procedimentos são realizados em regime de ambulatório, pois os pós-operatórios são cada vez mais bem tolerados.

A realidade é que atualmente é possível tratar uma hérnia discal lombar através de uma incisão de dois centímetros, ou menos, se tivermos em conta que existem técnicas endoscópicas, cujo acesso tem menos de um centímetro.

Portanto, a cirurgia, quando indicada, é um método seguro, apresentando um baixo risco de complicações e tendo efeito terapêutico altamente eficaz.

No que diz respeito à coluna cervical, esta tem características especiais, sendo a região mais móvel de toda a coluna vertebral. Os fenómenos degenerativos são semelhantes à coluna lombar, e as cervicalgias são igualmente multifatoriais.

Porém, o facto de estarmos perante uma região que possui grande mobilidade e uma componente muscular complexa resulta em queixas, por vezes, intensas e cuja abordagem terapêutica é pouco simples, passando essencialmente por medicação analgésica e anti-inflamatória, relaxantes musculares e reabilitação musculoesquelética.

Mais uma vez, a prática regular de exercício físico não só previne como é uma componente essencial no tratamento desta patologia.

Dores na coluna podem diagnosticar dores de cabeça?

Dores na coluna podem diagnosticar dores de cabeça?

Esta é uma pergunta feita recorrentemente pelos pacientes que convém desmitificar. A resposta é não.

Apesar de o excesso de tensão muscular cervical poder originar queixas álgicas ao nível da nuca, a típica cefaleia não tem relação direta com a coluna cervical.

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A hérnia de disco pode ser uma causa da cervicalgia?

À semelhança da hérnia discal lombar, esta hérnia raramente se apresenta apenas como uma dor localizada.

Uma hérnia discal cervical origina uma cervicalgia que se agrava com a mobilização do pescoço, associada a uma radiculopatia por compressão dos nervos da região cervical.

Neste caso, origina uma dor que se espalha ao longo dos braços, associada a alterações da sensibilidade.

Alguns doentes referem um certo alívio destas queixas, ao elevarem o braço acima do ombro ou ao posicionarem a mão atrás da nuca.

Em situações mais graves, e quando a hérnia é volumosa, pode comprimir a medula e originar um quadro clínico de tetraparesia, que consiste numa diminuição da força muscular dos membros superiores e inferiores, havendo necessidade de uma cirurgia urgente.

Posso ficar em uma cadeira de rodas caso faça uma cirurgia cervical?

Esta é outra das perguntas que mais ouço nas consultas. Devo dizer que o risco não é zero, mas é muito raro.

A técnica utilizada na maior parte das situações é muito segura e consiste numa abordagem do pescoço pela frente, afastando a traqueia e o esófago e substituindo o disco intervertebral por uma prótese, sendo assim possível manter a mobilidade cervical.

A patologia da coluna vertebral foi, durante vários anos, assombrada pelo receio, a maior parte das vezes injustificado, de riscos cirúrgicos elevados que poderiam incorrer em défices neurológicos graves sequelares.

Se algum dia existiu essa realidade, hoje em dia ela já faz parte de um passado distante.

Por fim, devo dizer que, mais do que o tratamento cirúrgico, a patologia da coluna vertebral passa pela instituição de políticas de saúde que promovam o exercício físico e um estilo de vida saudável.

Este é um passo decisivo para a saúde da sua coluna vertebral. As costas agradecem! A Sociedade Portuguesa de Patologia de Coluna Vertebral, promotora da Campanha Olhe Pelas Suas Costas, tem desempenhado um papel importante na tentativa de alertar para estes problemas, procurando desmistificar conceitos e promover a saúde e o bem-estar da sua coluna vertebral.

Não conseguiremos acabar com as dores nas costas, mas podemos melhorar substancialmente a qualidade de vida de quem as tem, se a informação for veiculada de uma forma clara, concisa e correta.

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